terça-feira, 28 de junho de 2011

Ossos do Ofício








No final de agosto de 2010, foi finalizada a conquista de um projeto que estava parado a mais de dois anos no Pedrão de Pedralva, esta nova linha se chama Ossos do Ofício e teve sua graduação sugerida em 5º VI E3 pelos escaladores Paulo Roberto e Fernandinho os quais fizeram a primeira repetição da via após 10 meses de conquista! Esta via com extensão aproximada de 400 metros é a segunda mais longa do sul de minas e a mais extensa linha da Serra do Pedrão, ela esta localizada no setor ossos, este local recebeu este nome devido a uma ossada humana encontrada na base, é uma grande parede a extrema direita do monolito denominado Pedrão. A rota Ossos do Ofício possui enfiadas com a inclinação da parede variando desde o positivo até o vertical, ao longo de sua extensão o escalador encontrará aderencia, regletes delicados e quebradiços, diedro, proteções fixas e moveis, muitos cactos e trechos expostos para manter o padrão das novas vias do Pedrão! A primeira investida dessa nova linha foi feita por mim José Nunes e Rafael Reis (Peter) no final da temporada de 2008 abrindo 100 metros de via no primeiro dia, por causa do forte calor deixamos para terminar a linha na temporada de 2009, mas devido ha uma vaca onde fraturei duas vertebras lombares e o antebraço direito tive que ficar um bom tempo afastado das paredes, sendo assim só retomamos a conquista em 2010 após finalizar uma outra bela linha chamada Castelo de Cartas! Nas empreitadas seguintes a rotatividade dos parceiros de conquista foi grande, na segunda investida contei com a ajuda do escalador Alessandro (Alemão) e munidos com uma furadeira conseguimos esticar mais 100 metros de corda, já na terceira investida com a furadeira na assistência técnica tive a ajuda do Paulo Roberto (Paulada) sendo assim os furos tiveram de serem feitos a mão o que nos tomou bastante tempo e fez a conquista progredir pouco naquele dia, na quarta investida arrumei um parceiro que se manteve presente até o fim da conquista foi o Fabricio Reis (Alf o ETeimoso), durante mais dois dias de conquista revezamos a ponta da corda talhando os furos manualmente e bem distantes uns dos outros para que a conquista rende-se, somente na sexta investida arrumamos uma nova metranca e demos férias ao batedor, isso fez a conquista voltar a render e com a ajuda de dois amigos Marcos (Paco) e Thiago (Chicória) concluímos esta extensa via na sétima investida!


Abaixo segue o croqui e algumas fotos da primeira repetição:































terça-feira, 21 de junho de 2011

Escaladas na Serra do Pedrão

Para aqueles que ainda não conhecem a Serra do Pedrão ou simplesmente Pedrão, é um monolito com paredes de gnaisse com mais de 300 metros de altura e extensão da base superior a 1000 metros, o qual se localiza na cidade sul mineira de Pedralva.




A conquista da clássica via desta parede foi concluída no final de 1995 e recebeu o nome de Evolução 6° VIsup E2 312m seus conquistadores foram João Bosco, Daniel Anami e Gisele, esta é a rota local mais cobiçada por escaladores do Brasil inteiro, entre as investidas de sua conquista, os escaladores João Bosco e Tatavo decidiram acessar o cume pela primeira vez através de uma linha de escalada mais fácil e assim em agosto de 1995 conseguiram o tal feito, subiram por uma parede em aderência de 200m com inclinação menos acentuada do que a da Evolução, esta conquista contou com varias proteções moveis e ancoragens em arvores não havendo necessidade de fixar grampos na rocha, a via foi batizada de Agosto 95 e graduada em 4º V. Sete anos mais tarde a parede ganhou mais uma rota, Suano Arco 4º VIsup E4 195m conquistada pelos escaladores Teusmá e Davi, que durante a conquista transpiraram todo arcool ingerido nas noites anteriores as investidas. A quarta conquista a culminar o monolito foi realizada por Rafael Wojcik e Alex Che e recebeu o nome de O Sabotador 4º V E1 200m, é a via mais tranqüila e protegida da parede, ideal para uma escalada de aclimatação e também para ser utilizada como rota de descida, pois é curta sendo possível rapelar com uma corda de 50 metros. Posteriormente Gustavo Piancastelli, Raul Quintiliano e Tiago Ferrer, conquistaram a via Cartas na Mesa 6º VIIa E3 140m que percorre um grande diedro fendado que vai da base até alguns metros abaixo do cume.
Em 2007 um novo ciclo de conquistas se iniciou, depois de ter escalado por varias vezes as vias existentes no local, e ficar indignado de ver uma parede daquele tamanho ser tão pouco explorada eu (José Nunes) resolvi convidar meu parceiro de conquistas Paulada (vulgo Paulo Roberto Souza) e outros escaladores da cidade de Pouso Alegre, associados a AFDM (Associação Fernão Dias de Montanhismo) para começar a abertura de novas vias naquelas grandes paredes. A primeira linha conquistada por nós foi a Racha Cuca 4º VIsup E3 300m, esta via se localiza na parede noroeste e uns 50 metros a direita da via Suano Arco seu inicio se dá por uma agarrencia que leva a uma grande fenda que eu namorava a um tempão, ao chegar nessa fenda percebi que na verdade era mais uma canaleta do que fenda e ao seu longo as probabilidades de proteções móveis diminuíam, por isso após chegar a sua metade resolvi sair dela e tocar em linha reta, para minha surpresa nesta parte do Pedrão ocorria boas agarras e não os tão encontrados regletes comuns as outras vias, fui esticando botando proteções bem espaçadas e no primeiro dia a investida rendeu uns 120 metros, no segundo dia de conquista, continuei na ponta da corda e subimos mais uns 100 metros de parede onde as agarras começavam a ficar parecidas com as das outras vias, a inclinação da parede hora ficando maior e hora menor e assim ia esticando e deixando as proteções bem espaçadas afinal de contas uma chapa e um bolt custam na faixa de R$7,00, na terceira investida o Paulada superou um lance bem vertical onde protegemos bem e denominamos o crux da via, passado o lance, Paulada alegando já ter gastado toda sua macheza resolveu me passar a ponta da corda, toquei pra cima vencendo mais uns 40 metros de parede e atingindo o cume, posteriormente voltamos para duplicar as paradas, resolvemos tirar o escorpião do bolso e botar mais umas chapas para baixar o grau de Expo da via. Ahhh! Já ia me esquecendo! O nome Racha Cuca se deu por um fato ocorrido no dia da duplicação das paradas, o serviço já havia terminado estávamos recolhendo a corda para montar o ultimo rapel, foi quando junto a corda veio uma grande pedra que mais parecia um pombo sem asa e acertou o capacete de nosso amigo Punk, a pancada foi tão grande que rachou a carcaça do velho Montana abrindo um taio na cabeça do coitado e acabando com alguns dos poucos neurônios que ainda restam na cuca deste ser! Corremos com ele pro hospital, uma radiografia foi feita e nenhuma fratura foi constatada, graças a Deus e ao uso do capacete!

Logo após a conquista da Racha Cuca, aproveitando o embalo convidei meu amigo Leandro mais conhecido como homem Bomba ou simplesmente B1, que estava louco pra entrar para o mundo das conquistas, saímos em busca de mais uma linha, na mesma face noroeste descemos a trilha uns 100 metros a direita da Racha Cuca e encontramos uma parede bem vertical com uma fenda duns 10 metros que começava larga e ia se estreitando, pensei comigo “$$ Acho que vai ser um lugar perfeito pois vou economizar com proteções fixas $$!” Toquei pra cima protegendo a fenda com camalots 5, 4 e 3 saindo dela estiquei alguns metros e botei a primeira chapa, daí pra cima fui esticando, economizando a carga da furadeira e proteções, a parede era vertical mas cheia de grandes e boas agarras, acho que originadas pelo intemperismo e microclima local, pois por ali o sol só bate depois do meio dia. Os cactos que são de uma espécie endêmica infestam todas as paredes de lá e enchendo o saco e também o corpo todo de espinhos durante as escaladas e conquistas em Pedralva, durante a conquista fui tocando pra cima e jogando cactos, até que um deles acabou atingindo a nuca do meu parceiro e ele ficou gritando desesperado! To cego to cego! Não me perguntem como um cactos na nuca pode deixar o cara cego, pois eu também até hoje não entendi! Esperei o se recompor e continuei tocando até esticar os 60 metros de corda e por sorte chegar num grande platô onde montei a seg numa arvore assim o trazendo pra cima, após este platô dei de cabeça numa parede de 90º onde em seu começo havia boas agarras que depois iam sumindo ou dando lugar a abaulados, neste primeiro dia conquistamos uns 15 metros desta parede vertical e descemos, depois disto tive que arrumar outro parceiro de conquista pois o B1 estava com medo dos cactos voadores, a conquista desta enfiada foi bem trabalhosa, foram 50 metros mesclando passadas em livre com lances de VIsup e artificial em furo de cliff, chegamos num bom platô onde achei que dali pra cima a conquista ficaria mais fácil, e ficou mas só depois dos seus primeiros 25 metros, entrei num fenda boa pra moveis off-set e quando sai dela comecei a fazer um furo pra botar uma chapa e com ¾ de furo acabou a bateria, assim resolvi meter a bunda da broca dentro do furo e passar a corda retinida na broca e rapelar até a proteção mais abaixo, depois desta investida demoramos um tempo pra voltar, pois já estávamos no verão e quando não chovia o sol castigava, em 2008 quando o tempo começou a ficar propicio para escalada de vias longas o super Paulada resolveu me ajudar na conquista, pois ninguém mais queria participar! Daí pra cima a parede foi ficando cada vez menos vertical e a conquista voltou a deslanchar e retomando a colocação de proteções um pouco mais espaçadas, em meados de maio depois de umas sete investidas chegamos ao cume. A via foi batizada de Tião Simão em homenagem ao hospitaleiro morador da base do Pedrão, a graduação sugerida ficou em 5 VIsup A1+ E3 330m.






Os causos do Pedrão, no ano de 1999 quando meu amigo Fabrico Reis, Rogério Malkomes e alguns amigos ecaladores daqui de Pouso Alegre, escalavam a via evolução, escutaram um grande estrondo e quando olharam pra cima viram um jipe que havia resvalado num platô e vinha voando em sua direção! Por sorte o jipe estava sem passageiros e passou uns 50 metros a esquerda dos escaladores assim ninguém se feriu mas a escalada acabou por ali! Outro fato ocorreu recentemente, numa sexta-feira santa chegamos no Pedrão pra dar continuidade a conquista nossa e uns escaladores de sampa iam começar a conquistar uma linha numa parede ainda inexplorada, com ajuda o filho e do neto do seu Tião começaram abrir ma trilha pra acessar o novo setor, foi quando acharam os restos de uma ossada humana, que tudo indica ser de um rapaz que desapareceu ali na região a uns 8 anos atrás.


O acesso ao Pedrão se faz partindo da rodovia BR-459 entrando na MG-347, na metade do trecho entre as cidades de são José do Alegre e Pedralva, entrar numa estrada de terra a direita onde há placas indicando uma casa de oração, daí é só seguir as placas, passar pela tal casa e ir até o final da estrada, chegando na sitio do seu Tião. Para quem vai com carros de passeio, terá de deixar o carro neste local, mas para quem tiver um 4x4 é só pedir autorização e subir até o pé da pedra!