segunda-feira, 4 de julho de 2011

Relato de conquista da via Castelo Cartas





Tudo começou durante um dia de escalada na Serra do Pedrão de Pedralva, estávamos eu e meu parceiro de cordada Marcelo Escalaboy, ascendendo pela via Suano Arco, em uma das paradas enquanto dava segurança de cima utilizando um equipamento auto blocante, assim pude desviar minha atenção, foi quando reparei num belo diedro a minha esquerda, o qual seria alcançado após a passagem por um tenebroso bloco gigante, ao fim desse diedro localizei um bom buraco onde poderia ser feita a primeira parada, acima deste ponto só conseguia visualizar uns 4 metros de parede vertical que mais acima ficaria positivo, concluímos a escalada do dia mas a nova linha ficou em minha mente até a semana seguinte! Ao conversar com meu amigo Fabrício Reis (Alf o ETeimoso), que certa vez tinha comentado ter começado uma linha por ali, confirmei que nós dois visualizamos a mesma rota, sendo assim ele me propôs, que continuássemos o projeto. Conforme o combinado, no domingo seguinte logo pela manhã estávamos lá com os equipos de conquista e muita vontade de tocar pra cima, como o Fabrício já havia começado a conquista dos primeiros metros e por ser um cara miudinho e leve, nada mais justo que ele passa-se com delicadeza pelo tal bloco gigante e sinistro, e continuasse a conquista da primeira parte da via. Após passar com todo cuidado pelo imponente bloco, o Alf foi tocando pra cima e jogando muitos cactos, pedras e capim gordura pra baixo, parecia até uma retro-escavadeira que por coincidência me fazia lembrar, de uma das primeiras vias que conquistamos juntos, nessa limpeza feita por ele foi descoberto um outro diedro o qual facilitou o seu progresso e deu possibilidade de colocações moveis, passado um tempo ele conseguiu finalmente chegar na base do tão esperado diedro principal, montou uma parada móvel e me chamou pra cima, subi com muita cautela pois além do blocão equilibrista havia tambem muitos blocos soltos.
Após chegar na parada peguei os equipos e assumi a ponta da corda, fui tocando pelo sonhado diedro o qual estava cheio de mato, liquem, merda de morcego, morcego e outros seres curiosos com nossa presença, fui subindo limpando e a cada metro encontrando uma boa surpresa, fendas com boas colocações moveis, boas agarras e outras coisas mais, neste ritmo deu pra subir metade do diedro, até que cheguei num ponto onde não encontrei péga, a parede ficava bem vertical e os liquens dificultavam a aderência da sapata, sendo assim resolvi passar em artificial utilizando boas colocações moveis, desse modo subi uns 2 metros até o diedro me permitir uma boa progressão em livre juntamente com ótimas colocações moveis até o seu final, chegando nesse ponto, com muito escalar e desescalar fiz uma saída pra esquerda e cheguei no buraco onde faria a primeira parada com aproximadamente 55 metros de via, deste local pra cima achei melhor meu parceiro continuar com a seg 30 metros abaixo de onde eu estava, pois teríamos poucas horas de luz natural, sendo assim achei uma saída botei uma proteção logo acima e a direita da parada, venci um lance vertical e posteriormente atingindo uma parede mais positiva e de fácil progressão, dando pra subir rapidamente uns 20metros utilizando-me de uma proteção móvel e por fim de uma proteção fixa pela qual fiz o rapel e encerramos o primeiro dia de conquista.
A partir do segundo dia de conquista quem passa a narrar a historia e fazer os furos será o meu parceiro Alf, pois eu fui dar continuidade a outros projetos pendentes. Como disse meu parceiro de cordada, Zé Nunes (Biro-biro), assumi a responsa de dar prosseguimento da conquista, sendo que tive a companhia do Chapeleta (vulgo Marcos), porém neste dia esticamos pouco, pois antes de entrar na conquista, o chapa iniciou um outro projeto, e ainda estávamos usando batedor manual.
Após alcançarmos o ponto conquistado na primeira investida, toquei pra cima, sendo este largo o mais positivo, pude limpar com tranqüilidade o segundo diedro da via, após a rápida jardinagem, surgiram ótimas colocações móveis.
Depois de superar esse trecho sem colocar mais nenhuma proteção fixa, alcancei um platô, que foi eleito para servir de P2, momento que bati mais uma proteção, logo após o chapa progrediu. Com a sua chegada sai para dar uma explorada, tentei continuar pelo lado esquerdo, porém ao ascender alguns metros pude perceber que pelo lado contrario a linha seria mais interessante, neste dia não havia mais tempo, então descemos, mas já tínhamos a linha a seguir na cabeça.
Na terceira investida, mais uma renovação na conquista, agora com a presença do Rich. Vocês deve estar se perguntando porque Rich com ch ao invés de cky, o lance é que antes ele usava cky mas depois que o Ricky Martin saiu do armário e depois de varias piadinhas envolvendo o nome dele com um jogador atleticano ele resolveu assinar Rich ao invés de Ricky! Mas voltando a conquista, neste dia o Rich conseguiu liberar um trecho da primeira enfiada, que até então estava sendo escalada com a utilização de técnica artificial, sendo o considerado o primeiro cruz da via, e graduado em 6º, este lance foi apelidado de passada do miserável, pois para transpor este trecho tem que enfiar a mão na fenda fechar o punho bem forte e apoiar a ponta dos dedos num regletinho insignificante. Ufa!
Após alcançarmos a P2, ponto conquistado na investida anterior, progredi ascendendo um bloco bem em frente a parada, e para variar mais um trecho de cactos a ser domado antes de progredir. Ultrapassado este trecho, encontramos duas possibilidades, pois havia uma pequena parede vertical a frente, enfim decidimos pela linha mais a esquerda, onde poderíamos proteger com uma peça móvel e com a utilização do cliff colocar uma proteção fixa mais acima, diminuindo muito o grau de exposição, devido ao platô que surge ao entrar neste lance, já que é necessário sair para a esquerda, se expondo em um vazio.
Após vencer este trecho inicial, sai em uma parede “um pouco” mais positiva, porém com muitas agarra podres, e que não proporcionavam a alternativa, ou segurança de parar para colocar uma proteção fixa, já que ainda estávamos com batedor manual, assim decidi tocar e só parar em um platô mais acima, onde cheguei com a garganta seca, já que tive de esticar, com a lembrança do platô......, mas era só o começo, pois ainda teria que fazer um furo para colocar uma proteção fixa, este momento foi lembrado por mim a semana inteira, pois meus pés ficaram arrebentados, durante talhar o furo tive de ficar em dois apoios horríveis. Com a colocação da proteção, meus pés não me davam confiança de continuar a ascender, e como o sol já estava baixo decidimos dar o dia de conquista por encerrada.
Na quarta investida, conseguimos repetir a dupla, eu e o Rich, neste dia tivemos a companhia dos amigos de Poços de Caldas, Renata Ravaneli e William, velho companheiro dos tempos do exército, eles nos acompanharam até o inicio da via, já que iriam escalar a via ao lado, a Sabotadores.
Enfim, tocamos até a P2, onde o Rich, tomou a ponta da corda, porém como narrei na passagem anterior, a passada onde prefiri não proteger devido as agarras podres, alterou o psico do Rich (que sentiu seu lado “cky martin” tomar conta da sua cabeça), que decidiu descer, já que seria necessário utilizar o Cliff em uma agarra que não era das melhores. Como já estava em um ritmo de conquista melhor, me senti mais a vontade para descansar meu corpo em um Cliff de agarra, local onde fixei mais uma proteção fixa, e depois foi vencer o ultimo trecho vertical da via, onde foram surgindo agarras de fenda horizontal, que proporcionavam uma ótima segurança, assim após mais algumas passadas superei esse lance, momento que cheguei em uma parede mais positiva, e para surpresa encontrei uma fendinha, onde protegi com um friend. Continuei tocando, e após superar um pequeno trecho de capim fixamos a última parada da via, já que havia somente alguns metros acima, onde poderíamos utilizar a parada final da via Suando Arco.
Após o final da conquista surgiu a forte idéia para o nome da via, Um Olho no Peixe e Outro na Gata, fazendo menção um pouco modificada do ditado popular um “olho no peixe e outro no gato”, esse nome se deu pela atitude do segurança o qual não sabia se olhava para a escaladora que subia pela via ao lado, se prestava atenção na segurança do guia, ou mesmo protagonizava um estravismo mantendo assim um olho em cada local. Este nome não deu muito certo pois as patroas não ficaram felizes com a historia, sendo assim foi cogitado denominar a via de “A Revolta das Patroas” mas como o nome também não deu muito Ibope, resolvemos batiza-la de “Castelo de Cartas”, pois como foi narrado pelo Biro-Biro, a via possui vários blocos empilhados! Esperamos que este relato de conquista instigue os leitores escaladores a entrar nesta nova linha do Pedrão.